O mundo está cheio de mistérios insolúveis e macabros. O caso Tamam Shud, ou Mistério de Homem de Somerton, é um deles. Este caso é de um homem que foi descoberto morto por volta das 06:30 de 1 de Dezembro de 1948 numa praia de Somerton, Austrália. O que torna o caso peculiar (para além de ninguém conhecer o falecido) é que, nas calças dele, foi encontrado um papel com as palavras "Tamam Shud", o que significa "terminado" ou "acabado" em Persa.
Considerado um dos casos mais misteriosos daquela altura, foram inúmeras as investigações em torno dele. Investigações que levaram a especulações, com perguntas como "Qual a sua identidade?","Como morreu" ou "O que levou à sua morte". Por todo o mistério existente, o caso tornou-se conhecido na escala internacional.
A VÍTIMA
Quando a polícia chegou, deparou-se com um corpo virado diretamente para o mar e com as pernas cruzadas.Atrás da orelha da vítima estava um cigarro, e no colarinho direito do seu casaco encontrava-se meio cigarro. O corpo da vítima estava em perfeitas condições.Uma autópsia foi realizada, concluindo que a hora da morte foi por volta das 02:00 da manhã de 1 de dezembro. Seguem as observações finais, retiradas da wikipedia:
O coração estava no seu tamanho normal, e normal em todos os demais aspectos (...) pequenos vasos incomuns encontrados no cérebro eram facilmente discerníveis com congestão. A faringe estava congestionada, e o esófago coberto por branqueamento das camadas superficiais da mucosa, com uma trilha medial de ulceração. O estômago estava profundamente congestionado (...) havia congestão também na 2ª metade do duodeno. Havia sangue misturado ao alimento no estômago. Ambos os rins estavam congestionados, e o fígado continha grande excesso de sangue nos seus vasos (...) o baço apresentava inchaço expressivo (...) de aproximadamente 3 vezes mais do que o seu tamanho normal (...) um exame microscópico revelou a destruição de lóbulos do fígado (...) hemorragia gástrica aguda, congestão extensiva do fígado e baço, e congestão do cérebro.
Apesar da revelação de que a última refeição do homem teria sido um pastel assado consumido três ou quatro horas antes da morte, testes e exames não conseguiram revelar qualquer substância estranha no seu organismo.O patologista Dr. Dwyer concluiu: "Estou convencido de que a morte não foi natural (...) suponho que o veneno utilizado pode ter sido um barbitúrico ou um hipnótico solúvel". Embora o envenenamento tenha permanecido como principal suspeita, chegou-se à conclusão de que o pastel não foi a fonte do veneno. Para além disso, o legista não pôde chegar a uma conclusão acerca da identidade do homem, pois não surgiram testemunhas que tenham visto seu rosto enquanto ele ainda estava vivo.6 A Scotland Yard foi chamada para ajudar no caso, alcançando resultados mínimos, e apesar de uma fotografia do homem e sua impressão digital circularem ao redor do mundo, nunca se chegou a uma identificação positiva.
Devido à não-identificação, o cadáver foi embalsamado a 10 de dezembro de 1948, o primeiro registo da realização de tal procedimento na história da polícia australiana.
A mala castanha
O caso sofreu uma reviravolta quando, a 14 de janeiro de 1949, funcionários da Estação Ferroviária de Adelaide descobriram uma mala com a etiqueta removida, que tinha sido colocada no guarda-volumes da estação por volta das 11:00 da manhã de 30 de novembro de 1948. No seu interior estavam um roupão vermelho, um par de chinelos de feltro vermelho, quatro pares de cuecas, pijamas, utensílios de barbear, um par de calças castanho claro com areia nas barras, uma chave de fenda de eletricista, um pincel, uma faca de mesa que fora reduzida a um instrumento de corte curto e afiado e um par de tesouras como as usadas em navios mercantes para demarcar as mercadorias embarcadas. As roupas foram rastreadas e levaram a um marinheiro local, Tom Keane. Tudo achou que Keane fosse o misterioso homem que faleceu, mas colegas de trabalho, ao identificar o corpo na morgue, comprovaram que não era. Foi o mais "perto" que se ficou de resolver o caso.Inquérito
Um inquérito legista conduzido por Thomas Erskine Cleland para definir a causa da morte começou poucos dias após a descoberta do corpo, sendo mantido em aberto até 17 de junho de 1949. O patologista investigador Sir John Burton Cleland re-examinou o cadáver e fez diversas descobertas. Burton notou que os sapatos do homem estavam consideravelmente limpos e pareciam ter sido engraxados recentemente, ao contrário do esperado de uns sapatos de um homem que aparentemente ficou a vaguear por Glenelg o dia inteiro. Ele acrescentou que esta evidência se encaixava na teoria de que o corpo pode ter sido levado para a Praia de Somerton após a morte do homem, levando em consideração a falta de evidências de vômito e convulsões, os dois efeitos principais de envenenamento.Existiram testemunhas na noite anterior, mas que não tinham como comprovar aquilo que viram.Thomas Cleland especulou que, como nenhuma das testemunhas pôde identificar positivamente o homem que viram na noite anterior como sendo a mesma pessoa descoberta na manhã seguinte, permanecia em aberto a possibilidade do homem ter morrido noutro lugar e o seu corpo ter sido abandonado na praia. Ele enfatizou que essa teoria não passava de especulação, pois todas as testemunhas acreditavam ser "definitivamente a mesma pessoa", devido ao facto do corpo ter permanecido no mesmo local e caído na mesma posição distinta.
O fracasso em desvendar a identidade e o que levou à morte do homem levou as autoridades a definirem aquele como um "mistério sem paralelos" e acreditarem que a causa da morte jamais seja determinada. Um editorial de época chamou o caso de "um dos mistérios mais profundos da Austrália", observando que, se o homem morreu por consequência de um veneno que de tão raro e obscuro não pôde ser identificado por especialistas em toxicologia, então o conhecimento avançado em substâncias tóxicas do autor do crime apontava certamente para algo muito mais sério do que um mero envenenamento doméstico.
Rubaiyat de Omar Khayyam
Na mesma época do inquérito, um pedaço de papel impresso com as palavras "Taman Shud" foi encontrado em um compartimento secreto disfarçado no bolso de uma das calças do homem. Oficiais da biblioteca pública foram convocados para traduzir a nota, identificando-a como uma frase, de significado "fim" ou "terminado", encontrada na última página da coleção de poemas Rubaiyat, de Omar Khayyām — a translineação correta de "Taman Shud" a partir do persa (idioma original dos poemas) no entanto seria "Taman Shod", ou "Tamam Shud"O papel estava em branco no verso, e a polícia conduziu uma busca por toda a Austrália para encontrar uma cópia do livro que apresentasse um verso em branco similar àquele, não obtendo sucesso. Uma fotografia do pedaço de papel foi enviada então para o departamento da polícia e divulgada ao público, levando uma pessoa a revelar que tinha encontrado uma rara primeira edição de Rubaiyat traduzida por Edward FitzGerald e publicada na Nova Zelândia pela Whitcombe and Tombs, Esta pessoa não sabia da conexão do livro com o caso até ver o artigo no jornal do dia anterior. A sua identidade e profissão foram mantidos em segredo pela corte, assim como as razões que levaram a esta supressão
O livro não trazia as palavras "Taman Shud" na última página, cujo verso estava em branco, e exames de microscopia indicaram que esta página específica tinha sido arrancada. O último verso de Rubaiyat, imediatamente antes de "Taman Shud", é:
And when thyself with shining foot shall pass
Among the Guests Star-scatter'd on the grass
And in your joyous Errand reach the Spot
Where I made One - turn down an empty Glass!
Esta primeira edição, publicada pela Whitcombe and Tombs, usa a palavra "shining" no lugar da palavra "silver" que é encontrada em outras traduções de FitzGerald e edições posteriores. Isto levou a polícia a teorizar que o homem tinha cometido suicídio ao ingerir o veneno, embora não exista outra evidência que suporte esta teoria.
Nas costas do livro, encontravam-se algumas anotações feitas com um lápis. Após um exame ultravioleta, foi possível ler cinco linhas de letras maiúsculas, com a segunda delas riscada. As letras riscadas foram posteriormente consideradas significantes por sua similaridade com as da quarta linha, indicando provavelmente um erro e, mais além, uma possível prova de que as letras seriam um código:
MRGOABABD
MTBIMPANETP
MLIABOAIAQC
ITTMTSAMSTGAB
Um número de telefone que não constava no catálogo também foi encontrado nas costas do livro. O número pertencia a uma ex-enfermeira que morava na Rua Moseley em Glenelg, situada a 800 metros do local onde o corpo foi encontrado. A mulher declarou que, enquanto trabalhava no Royal North Shore Hospital em Sydney durante a II Guerra Mundial, era dona de uma cópia do Rubaiyat mas que em 1945, no Clifton Gardens Hotel em Sydney, deu-a de presente a um tenente do exército chamado Alfred Boxall, que servia então na Secção de Transporte de Água do Exército da Austrália.
A polícia achou que Boxall fosse a vítima, até o terem encontrado vivo...o mistério continuava, e cada vez com mais incertezas.
A história completa encontra-se aqui
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